Proponho-me a fazer algo diferente na categoria de “poemas”, vamos falar de cânticos. Em especial, a música “Raridade” de Anderson Freire. O intuito é motivar a reflexão bíblica daqueles que, sinceramente, cantam essas letras, sem discernimento. Entretanto, antes de iniciar, esclarecerei que essa avaliação é uma análise pessoal, sob orientação Bíblica, da letra. Não tem como objetivo ofender e, muito menos, substituir os ensinamentos bíblicos dados por pastores capacitados por Deus para ensinar com maior riqueza de detalhes.
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ToggleO Contexto
Dito isso, começaremos com uma avaliação geral: a música é composta em sua maior parte de pronomes e verbos na primeira ou na segunda pessoa do singular. E, ainda, grande parte deles se refere ao observador ou ao objeto que sofre a ação. Para exemplificar, o “eu” e o “você” repete-se com grande evidência na canção. O “eu” observa e o “você” é o objeto de admiração na letra, basicamente é o centro do qual a canção parece focar.
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Assim, vemos que a música gira em torno do “você”, pois os atributos raros e peculiares são atribuídos todos ao objeto, que subtende ser uma pessoa aleatória. Não há qualquer indício de qual pessoa a cantoria esteja falando, o que torna possível atribuir os atributos particulares e preciosos a qualquer pessoa.
Além disso, a palavra “Deus” aparece 14 vezes ao longo da música, sendo 9 repetições de frases. Portanto, “Deus” aparece apenas 5 vezes ao longo da letra. Mas, isso é apenas um “detalhe”, muitos hinos são feitos com repetições, certo? Bom, vejamos, mais. Todas as 5 vezes que “Deus” aparece é de forma a servir ao “você”.
- “Mas te olhando eu posso a Deus adorar”
- “Não mudou o início, Deus escolheu você“
- “Isso é mistério de Deus com você“
- “Já é o bastante Deus reconhecer o seu valor”
- “Se você desistiu, Deus não vai desistir”
Em resumo, não é preciso muito esforço, ao olhar à letra, para perceber que o centro das frases destacadas é “Deus” em serviço do homem. Por aqui, já deveríamos suspeitar desse “louvor”, pois certamente é uma adoração, mas a pergunta é “quem está sendo, de fato, adorado”?
Música “Raridade”: Uma Análise por Estrofe
“Raridade”: primeira estrofe
Ademais, a ambiguidade em alguns pontos da letra é, no mínimo, estressante para avaliar. A primeira estrofe, por exemplo, “Não consigo ir além do teu olhar /Tudo o que eu consigo é imaginar/ A riqueza que existe dentro de você”, o que o autor quis dizer com “não consigo ir além do teu olhar”? o que isso significa?. Quando pergunto, não estou me referindo ao entendimento superficial do que está escrito, ou seja, refiro-me ao que quer dizer, levando em consideração, que esta musica é classificada como “cristã”. Também, qual versículo bíblico essa parte tem por embasamento?
O Grande Valor do Ser Humano
Retendo-se um pouco, na última pergunta, e lembremo-nos que o observador é que vê um grande valor no objeto; e ele nem tem certeza, apenas, imagina. Agora, vejamos se este observador está biblicamente correto ao ver essa riqueza imensurável dentro do ser humano:
1. O Homem tem um Coração Corrupto e Pecaminoso
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?”
Jeremias 17:9
“Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.“
Mateus 15:19
2. O Homem é Mal desde a Infância
“E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz.”
Gênesis 8:21
4. Todos são injustos diante de Deus e não O procuram
“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.“
Romanos 3:10-12
5. Todos os Homens Pecaram e, como tais, estão debaixo da Ira de Deus
“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;”
Romanos 3:23
6. As obras humanas, como tal, são imundícias diante de Deus
“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia;”
Isaías 64:6
Em resumo, qual é a riqueza o observador viu dentro desse objeto? – Veja que em nenhum momento a letra fala de Cristo, mas descreve como se essa preciosidade fosse intrínseca ao ser humano. A questão, então, é: “essa letra é bíblica?”
“Raridade”: segunda e terceira estrofe
Ainda, vejamos a segunda estrofe: “O ouro eu consigo só admirar/ Mas te olhando eu posso a Deus adorar/ Sua alma é um bem que nunca envelhecerá”. Como dito a ambiguidade da letra é estressante, “sua alma é um bem que nunca envelhecerá”? a alma, um “bem”, em que sentido?
Além disso, veja algo que, particularmente, considero confuso: “mas te olhando eu posso a Deus adorar”. Parece-me que o objeto, pela sua beleza sem fim, é o motivo de adoração a Deus. Então, não é que Ele é, em Sua santa essência, mas por causa do objeto?
Terceira estrofe
Ademais, a terceira estrofe: “O pecado não consegue esconder/ A marca de Jesus que existe em você/ O que você fez ou deixou de fazer/ Não mudou o início, Deus escolheu você”. Vejamos, o pecado é tratado como algo que não exerce mudança no indivíduo, será mesmo? Ele é o motivo pelo qual Paulo exclamou: “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). É o motivo pelo qual todos foram destituídos da glória de Deus (Rm 3.23). É o motivo pelo qual a morte entrou no mundo: “Pois o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) e, muito mais poderia se dizer do pecado, inclusive, que Deus o odeia (1Coríntios 6.9). Ainda, o Catecismo de Westminster afirma:
“Em que consiste o pecado desse estado em que o homem caiu?
O pecado desse estado em que o homem caiu consiste na culpa do primeiro pecado de Adão, na falta de retidão na qual este foi criado e na corrupção da sua natureza pela qual se tornou inteiramente indisposto, incapaz e oposto a todo o bem espiritual e inclinado a todo o mal, e isso continuamente: o que geralmente se chama pecado original, do qual precedem todas as transgressões atuais.”
O poder do pecado
Ou seja, o pecado entrou nas entranhas dos homens e o corrompeu de tal forma que não podem mais fazer o bem espiritual diante de Deus. Então, o pecado não escondeu, mas corrompeu. É algo muito mais profundo e cruel (que a letra parece não dar valor). O pecado afastou o homem do Supremo Bem e o afundou em total perdição. E se não fora o sacrifício de Cristo, naquela cruz, todos estaríamos perdidos para sempre.
Assim, lembremo-nos que Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados (Rm 4.25), portanto não pode ser algo insignificante: o próprio Deus desceu dos céus para morrer por pecadores. Nunca podemos esquecer do poder do pecado, nunca deveríamos tratá-lo como algo que não tem qualquer impacto, pois menosprezaríamos a obra de Cristo na cruz – o que é inadmissível.
A marca de Cristo
Dito isso, as pessoas podem dizer: “o pecado não esconde a marca de Cristo!”, o que é uma afirmação que pode ser verdadeira. Quando digo que pode ser verdadeira me refiro a sua utilização? é semelhante ao dizer “Jesus te ama” – é uma frase verdadeira dependendo do modo, intenção e com quem você está utilizando. Como dito não temos referência na letra de para quem o autor está se referindo. Então a primeira pergunta seria: “todos tem a marca de Cristo?”, mas, antes: “Qual é a marca de Cristo?”.
A letra não responde a nenhuma dessas perguntas, ela simplesmente afirma que o pecado não esconde a marca de Cristo em “você”. O foco da letra é que não importa seus pecados, quem você é ou o que foi, Deus lhe escolheu e pronto, a marca de Cristo não é apagada. Aqui, novamente, volto a reintegrar que não é que as frases não contenham verdades, mas o contexto não permite (e a carência de informações) que se extraia boas perspectivas da letra. Como dito, ela coloca o homem como objeto de culto. Se, talvez, o contexto fosse diferente poderíamos utilizá-la para reafirmar verdades cristãs nos louvores, mas esse, infelizmente, não é o caso. Isso porque, em vez dessas “verdades” reafirmarem o caráter supremo e maravilhoso de Deus, permitem que o pecador menospreze o pecado em sua vida.
Música “Raridade”: quarta, quinta e sexta estrofe
Ademais, a quarta estrofe: “Sua raridade não está naquilo que você possui / Ou que sabe fazer / Isso é mistério de Deus com você”. Mais uma vez a música cria perguntas, mas não fornece respostas. A raridade, a qual toda a música centraliza, não é um objeto ou uma qualidade da pessoa. Ai, você pode perguntar: “O que é?”, a música responde: “mistério de Deus com você”.
Talvez você pense que a quinta estrofe responda a pergunta: “Você é um espelho / Que reflete a imagem do Senhor / Não chore se o mundo ainda não notou / Já é o bastante Deus reconhecer o seu valor”. A primeira vista pode parecer que sua raridade está no fato de você ser a imagem (e semelhança) de Deus, o que é verdade: todo ser humano é a imagem e semelhança de Deus, embora isso não seja motivo dele se engrandecer diante de Deus, como a música supõe. Particularmente, penso que o livro “Sangue Inocente” de John Ensor, explica bem as implicações na questão de valor para a vida associando biblicamente essa verdade de Gênesis 1.27. Então, se está interessado recomendo que leia o livro na íntegra.
Mas, por hora nos concentremos na letra. As palavras informam que você deveria estar contente, pois Deus reconheceu o seu valor. O mundo não, mas Deus sim. Aqui está um exemplo claro de Deus sendo utilizado para servir aos interesses da música. Deus reconheceu o seu valor. Caso a música estivesse se referindo a sermos a imagem e semelhança de Deus, como a Bíblia afirma, o valor seria possuir atributos semelhantes a Deus, em atributos comunicáveis. Deus não necessitaria reconhece-los, pois Ele gratuitamente os teria concedido. Nós é que deveríamos reconhecer, a ação de adoração e gratidão é do homem e não de Deus. É o homem quem adora, reconhece e se curva no pó diante de Deus.
Sexta Estrofe
Ainda, a sexta estrofe afirma: “Você é precioso /Mais raro que o ouro puro de Ofir /Se você desistiu, Deus não vai desistir / Ele está aqui pra te levantar se o mundo te fizer cair”. Vejamos, Isaias 13.12, Deus fala que fará que os homens sejam mais raros que o ouro de Ofir. Entretanto, assim como o demais da letra da música “Raridade” tudo é tirado de contexto, inclusive essa passagem:
“Eis que vem o dia do Senhor, horrendo, com furor e ira ardente, para pôr a terra em assolação, e dela destruir os pecadores. Porque as estrelas dos céus e as suas constelações não darão a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não resplandecerá com a sua luz. E visitarei sobre o mundo a maldade, e sobre os ímpios a sua iniquidade; e farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba dos tiranos. Farei que o homem seja mais precioso do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir.
Por isso farei estremecer os céus; e a terra se moverá do seu lugar, por causa do furor do Senhor dos Exércitos, e por causa do dia da sua ardente ira. E cada um será como a corça que foge, e como a ovelha que ninguém recolhe; cada um voltará para o seu povo, e cada um fugirá para a sua terra.”
Isaías 13:9-14
“mais raro que o ouro puro de ofir”
Ou seja, quando Deus está falando que fará o homem mais raro do que o ouro de Ofir, Ele estava anunciando sua destruição. A maldade dos homens será visitada e eles se tornarão escassos, porque a justiça divina se manifestará. Era para os homens temerem e não se vangloriarem em sua “raridade”. A partir daqui toda a estrofe fica sem sentido: “Deus não vai desistir de você”? “Deus te levantará?” – tudo isso a letra subjugou ao fato de “você” ser “precioso e mais raro que o ouro puro de ofir”. Mas, de acordo com o texto bíblico, Deus te punirá pelo seu pecado, Deus não desistirá de manifestar a Sua justiça e o próprio Deus te fará cair pela sua maldade. Consequentemente, o homem será: “mais precioso do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir“.
A Importância de Observar a Letra
Portanto, consideramos que se a Palavra de Deus fosse consultada, certamente não teríamos tantas divergências na letra. Mas, sim a adoração sincera e bíblica.
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Em resumo, a música “Raridade”, pessoalmente acredito que, serve para que os cristãos tenham atenção na letra que cantam. E, antes de qualquer som ser entoado, deve-se submeter a letra a Palavra de Deus. Por conseguinte, atentar para que a composição honre a Bíblia. E o único Deus verdadeiro. Depois de tudo estando afirmado, cantar com singeleza de coração.
Todavia, sempre há aqueles que não veem nada de mais nas letras das canções e, logo, desconsiderarão o que foi escrito (o que é um direito pessoal e de própria responsabilidade). Entretanto, terminarei citando Eclesiastes 11.9:
“Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo.”