Antes de continuarmos, lembremos o que foi exposto na parte 1 desse estudo: Davi, o instrumento que Deus escolheu para glorificar Seu Santo Nome, parecia fraco e tolo para a sabedoria natural e a prudência militar. Isso é, totalmente inadequado para o combate que assombrava os melhores guerreiros de Israel. Entretanto, o próprio Deus afirmou a Samuel, quando o Senhor o mandou ungir Davi:
“Não considere a sua aparência nem sua altura, pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” (1Sm.16.7)
Assim, o Senhor evidencia a Sua infinita Bondade e Sabedoria, pois Deus não escolhe com os mesmos critérios que os homens. Ele não é limitado pelo limite deles, nem vê Seus planos frustrados por suas incapacidades. Deus não precisa dos “melhores homens” de acordo com a sabedoria comum, pois Ele os capacita, mantém e guarda. Ele fortalece e sustenta os fracos! A insuficiência deles é utiliza pelo Senhor, com infinita misericórdia, para declarar a todos a Sua grandeza infinita.
Ou seja, não é a qualificação ou desqualificação do instrumento que determina o sucesso ou fracasso da história, mas o reger de Deus e de Sua vontade para o fim determinado pela Sua sabedoria!
- Leia a primeira parte desse artigo em: “Davi e Golias: Uma Luta de Fé e Propósito – 1/2”
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ToggleDavi: o mais moço
Ademais, Jessé teve oito filhos (1Sm.16.10-11), apenas três deles se juntaram ao exército de Israel (1Sm.17.13), de modo que cinco deles estavam em casa. No entanto, Davi, o mais novo, foi o enviado para averiguar o bem-estar de seus irmãos. Desse modo, é evidente que Deus tinha uma função para o jovem pastor realizar. Ainda que ninguém soubesse, Davi era o homem que honraria o nome do Senhor, pois ele já havia provado, nos campos de Belém, da suficiência do seu Deus e de Sua graça libertadora. Ele estava apto para realizar esse trabalho, porque Deus o capacitou para demonstrar Sua própria grandeza. Além disso, Davi exerceu prontamente a vontade de seu pai Jesse, mas não deixou suas ovelhas desamparadas, ele não as abandonou:
“Levantando-se de madrugada, Davi deixou o rebanho com outro pastor, pegou a carga e partiu, conforme Jessé lhe havia ordenado. Chegou ao acampamento na hora em que, com grito de batalha, o exército estava saindo para suas posições de combate.” (1Sm.17.20)
Diante disso, Davi prova seu caráter e evidencia o zelo pela seu cargo. Ele foi fiel ao que Deus lhe deu, ainda que para alguns parecesse insignificante, e honrou seu pastorado. Aqui vemos outro princípio: quem está mais apto para comandar é quem, anteriormente, aprendeu a obedecer! Sua fidelidade no pouco o habilitou para governar sobre muitos!
Davi e o desprezo de Eliabe
Seguindo, Davi chega ao acampamento e saúda seus irmãos. Nesse contexto, surge Golias que, habitualmente, repete seu desafio. A Palavra de Deus vai afirmar que: “quando os israelitas viram o homem, todos fugiram com muito medo” (1Sm.17.24). Todos os incentivos de Saul foram inúteis para conter o pavor do seu exército (1Sm.17.25), todos os homens estavam aterrorizados, ninguém parecia capaz de deter essa grande ameaça. Todavia, o jovem Davi enxergou essa situação com outros olhos, ele não viu um homem forte e temível enfrentando qualquer exército, mas um “incircunciso” desonrando o “exércitos do Deus vivo” (1Sm.17.26).
Porém, seu irmão mais velho, Eliabe, ao ver Davi conversando com os soldados, o desprezou (1Sm.17.28). Suas palavras tinham como propósito afrontar o caráter de Davi e desdenhar do seu trabalho:
“Por que você veio até aqui? Com quem deixou aquelas poucas ovelhas no deserto? Sei que você é presunçoso e como seu coração é mau; você veio só para ver a batalha” (1Sm.17.28)
Certamente, Davi foi mal interpretado pela fúria de Eliabe, e seus atos desvalorizados. Compare com João 1.11, quando temos o exemplo de Cristo: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”. Note que o Filho Encarnado não foi apreciado, portanto seus ministros também não devem esperar ser (Gl 1.10). Os homens carnais rejeitam os homens de Deus, por isso estes servos devem estar preparados para serem, como Davi, e ainda mais, como seu Mestre: mal interpretados e, consequentemente, sozinhos.
No entanto, mesmo diante de tamanha injustiça, Davi respondeu com sabedoria, afastando-se da provocação de Eliabe. “Aquele que anda com Deus não deve temer a oposição,” como destaca Mateus Henry.
A Fé em Ação
Em resumo, Davi era um homem de fé e suas atitudes comprovaram isso. Seu desprezo e desdém por Golias eram tamanhos, porque Davi o via do ponto de vista de Deus. Golias era Seu inimigo, filisteu, rebelde, um incircunciso. Assim, esse jovem pastor não temeu Golias, pois ainda que diante dos homens ele pudesse ser assustador, diante de Deus não passava de pó.
Davi, também, foi desencorajado por Saul: “Você não tem condições de lutar contra este filisteu; você é apenas um rapaz, e ele é um guerreiro desde a mocidade” (1Sm.17.33), porém Davi conhecia o Seu Deus, nos campos de Belém, vira o Seu poder e a Sua misericórdia: O Senhor que me livrou das garras do leão e das garras do urso me livrará das mãos desse filisteu” (1Sm.17.36). Essa era a base da sua fé, que aparentemente o resto não compreendia, Davi não temeu Golias, porque não estava olhando para si mesmo, nem pensando em suas capacidades. Ele olhava para Alguém além de si mesmo, para Aquele que é Superior, Sublime, e diante Do Qual todos são fracos e frágeis. Essa era sua experiência, Davi já havia passado por algo semelhante com o leão e com o urso, Deus os havia despedaçado.
Então, por que haveria de ser diferente com o filisteu? (1Sm.17.36).
A Armadura de Saul
Assim, Saul concedeu sua armadura para Davi (1Sm.17.38). Entretanto, não era adequada para ele. Portanto, Davi rejeitou e, com apenas uma funda e cinco pedras lisas ele sai para enfrentar Golias. Compreendamos que a armadura de Saul não condizia com os métodos que Davi havia utilizado nos campos de Belém, ele era um pastor de ovelhas, e dessa forma Deus o havia ensinado. Aqueles que andam com Deus devem sempre estar prontos para utilizarem os meios que o Senhor fornece, não meios carnais que não condizem com o valor espiritual, sendo meras bugigangas.
Assim sendo, Deus não apenas direciona os fins, mas também os meios fazendo com que tudo, exatamente tudo, seja para Sua glória. Aplicando para a atualidade, entristecemo-nos com a quantidade de “cristãos” que utilizam meios não bíblicos para atingir um fim, segundo suas visões distorcidas, “bíblico”, o exemplo mais comum são os “novos” métodos de evangelismo. Mas, lembre-se Deus tem os Seus justos métodos, e homem nenhum tem o direito de modificá-los! É por conta e risco se o homem assim o faz, não em “nome de Deus”!
A morte de Golias
Em síntese, Eliabe zombou de Davi, Saul o desencorajou e o próprio Golias o desprezou e amaldiçoou (1Sm.17.43). Contudo, Davi afirmou:
“Você vem contra mim com espada, com lança e com dardo, mas eu vou contra você em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem você desafiou. Hoje mesmo o Senhor o entregará nas minhas mãos, e eu o matarei e cortarei a sua cabeça. Hoje mesmo darei os cadáveres do exército filisteu às aves do céu e aos animais selvagens, e toda a terra saberá que há Deus em Israel. Todos que estão aqui saberão que não é por espada ou por lança que o Senhor concede vitória; pois a batalha é do Senhor, e ele entregará todos vocês em nossas mãos” (1Sm.17.45-47)
Davi, então, enfrentou Golias e sua pedra, arremessada com a atiradeira, ficou “encravada” (1Sm.17.49) na testa do filisteu, matando-o. Aqui vemos o porque da vitória de Davi: Deus entregou Golias nas mãos do jovem pastor, o instrumento, que mesmo fraco em si mesmo, O honrou diante dos maiores militares de Israel. E, acrescentando-se, não por meios comuns da guerra, mas com uma funda e uma pedra, contrariando toda a sabedoria do mundo, porque Deus das Escrituras é o único Deus Verdadeiro!
“Assim Davi venceu o filisteu com uma atiradeira e uma pedra; sem espada na mão ele derrubou o filisteu e o matou” (1Sm.17.50)
Em suma, uma pedra na mão de Davi valia mais do que toda a armadura do gigante filisteu e do que sua incredulidade, pois o poder que Deus enviou, através daquela pedra, foi capaz de atravessar seu capacete de bronze (1Sm.17.5), ocasionando a morte do homem que desafiou o “exército do Deus Vivo”.