A Doutrina da Queda: A Natureza Humana

Romanos 3:23 declara: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus.” Essa verdade bíblica revela a condição humana após a desobediência de nossos primeiros pais, conforme descrito nas Escrituras. A doutrina da Queda ensina que o homem, em sua total depravação, é incapaz de se salvar sem a intervenção divina do Deus triúno. Assim, a eleição soberana do Pai, a redenção pelo Filho e a regeneração pelo Espírito Santo representam a única esperança verdadeira para a humanidade.

Neste contexto, compartilho valiosos ensinamentos extraídos do livro The Total Depravity of Man, de A.W. Pink, guiados pela autoridade das Sagradas Escrituras.

A Doutrina da Queda: Quem Somos?

Somos pecadores por natureza (Salmos 51.5-10), com todas as nossas faculdades — ações, vontades, desejos, raciocínio e habilidades — corrompidas pelo pecado. A Queda nos separou de Deus, a única fonte de felicidade e santidade, desfigurando a imagem divina em que fomos criados (Gênesis 1:26-27). Como resultado, o homem inclina-se à corrupção, rejeita a Deus e Seus ensinamentos, desafiando-O diariamente com seus pecados.

Origem da Queda: Explicações Humanas e a Verdade Bíblica

Filósofos tentaram explicar a origem do mal com base em suas perspectivas. Platão, por exemplo, atribuía o mal à ignorância, afirmando: “Ninguém é voluntariamente mau; o mal é apenas ignorância do bem” (adaptado de República, Livro VII). Aristóteles via o mal como escolhas erradas, resultado de vícios que se afastam da virtude, que ele considerava o equilíbrio: “O mal é a privação do bem, e o vício é escolher contra a razão” (adaptado de Ética a Nicômaco, Livro II).

Já Rousseau defendia que o homem nasce bom, mas é corrompido pela sociedade, devido à desigualdade e à propriedade privada: “O homem nasce bom, e a sociedade o corrompe” (adaptado de Discurso sobre a Origem da Desigualdade).

Embora reconheçam a existência do mal, essas teorias não explicam sua verdadeira origem. De onde veio o mal? Qual é sua fonte? – Somente a verdade bíblica revela o caminho até a raiz do pecado.

O Homem na Criação: A Imagem e Semelhança de Deus

Primeiramente, Deus criou o homem reto, ou seja, sem nenhum aspecto mal em sua natureza. Entretanto, o homem se desviou, voluntáriamente se rebelou contra o seu Criador. Além disso, em Gênesis 1:26, lemos: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes, as aves e toda a terra.”. O termo “façamos” revela a ação da Trindade, enquanto “imagem e semelhança” aponta para a perfeição moral do homem. Ou seja, Adão era íntegro, com faculdades puras e santas, capaz de obedecer à vontade divina.

Ademais, Gênesis 2:7 complementa: “Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe o fôlego da vida, e ele se tornou alma vivente.” . Apesar de sua origem humilde, Adão recebeu inteligência e um corpo apto para a vida, diretamente conectado a Deus. Em Gênesis 1:28, vemos que ele governava a criação como um mordomo racional, com livre-arbítrio para glorificar a Deus.

Ainda, no Jardim do Éden (Gênesis 2:8), Adão vivia em um lugar de beleza e abundância, com a responsabilidade de cuidar e proteger o jardim — uma tarefa que exigia vigilância e dedicação.

A Desobediência de Adão

Vale salientar que, mesmo criado perfeito, Adão era uma criatura, e como tal tinha limitações que o tornavam capaz de pecar. Pode-se ressaltar que ele dependia totalmente de Deus (Salmos 66:9), não possuía onisciência para prever o mal, era mutável (Tiago 1:13, 17) e não era impecável como Cristo. Alem disso, sua liberdade original permitia escolhas livres, diferente de nós, pois após a Queda, a vontade humana se tornou escrava do pecado. Romanos 6:20 diz: “Quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça”.

Ademais, Gênesis 2:16-17, mostra-nos que Deus proibiu Adão de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, testando sua obediência e sua fidelidade ao seu Criador. Entretanto, a árvore não era má em si mesma (sua composição ou nos seus frutos), mas a ordem de Deus a tornou objeto de rejeição, de forma que era abominável para Adão comer. Sintetizando, Hermann Witsius explica que essa ordem ensinava que: Deus é o Senhor; a felicidade está na submissão a Ele; e a obediência supera qualquer desejo terreno.

Adão, porém, como sabemos, preferiu seguir sua própria vontade. Eva,não foi diferente, ao dialogar com a serpente (Gênesis 3:1-3), omitiu a liberdade que Deus havia dado. Portanto, caiu no engano de satanás, que a fez duvidar da bondade divina (Gênesis 3:4-5). Ao contrário de Cristo, nosso Salvador, que rejeitou as tentações com firmeza, Eva cedeu, e Adão a seguiu, introduzindo o pecado no mundo. Diante disso, somos alertados a sermos gratos com o que Deus nos deu, de modo a seguir confiante em Sua Palavra, fugindo (as vezes, literalmente, como José) das falsas insinuações de satanás!

A Morte: Consequência da Queda

Romanos 5:12 ensina: “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte.” Adão, como cabeça federal, representou a humanidade na Aliança das Obras. Sua desobediência afetou todos os descendentes, como 1 Coríntios 15:45-47 contrasta com Cristo, o segundo Adão, perfeito.

Portanto, a Queda trouxe três mortes: física (desgaste do corpo), espiritual (separação da comunhão com Deus) e eterna (separação total de Deus para sempre). Assim, a doutrina da Queda destaca a corrupção humana e a necessidade da graça divina para a salvação. Diante disso, fica claro a necessidade de Cristo, como Senhor e Salvador, para a salvação do Seu povo, de modo que não há outro caminho (Jo.14.6).

Em resumo, Jesus Cristo, o Filho de Deus, pagou o escrito de dívida (Col.2.14) que pesava sobre nós, agora servos amados, mas outrora criminosos e merecedores da Justiça de Deus. Caso essa seja a sua realidade também, seja grato, adore unicamente ao Deus triúno, da sua Salvação, e fuja de todos aqueles que dizem o contrário das Sagradas Escrituras. Não permita que outros insiram dúvidas em você e com isso fique descontente, como Eva permitiu e, consequentemente, você aceite o que Deus proibiu, negando uma ordem direta, configurando um ato de rebeldia, como Adão.

• Nesse contexto, leia, também, o poema: “A Grandeza de Deus”